À boleia pela Vida... Viajar por Dentro e por Fora!

Dois meses mudaram toda a minha Vida. Sem esses dois meses e sem as pessoas com quem me cruzei não seria quem sou hoje. Hoje sou viajante! Mais que nunca! Planos para o futuro: Viver os meus sonhos! Fazer o que me preenche. Mostrar ao mundo que é possível viver os sonhos. Sempre!

Tuesday, February 20, 2007

estrada, alcatrão, esperas e surpresas... muitas...

Finalmente regressa a vontade de escrever, talvez por regressar também a inquietação da estrada e o chamamento do alcatrão.
Talvez porque o vento frio da Alemanha me beije a cara e me diga, até à próxima. Vai, mas volta logo.
Talvez porque, afinal, a estrada foi feita para isso. Para que as trocas se dessem entre os romanos. Para que os mensageiros corressem a avisar os reis. Para que um mundo à distância de um clique se pudesse realmente ver e não só e-comunicar. Para que eu largasse tudo, vestisse a segunda pele, a da mochila, apertasse o feixe éclair do casaco, inspirasse fundo antes de sair de casa e me fizesse à estrada. No Verão passado, na sexta-feira, depois de amanhã, em Setembro e sempre.
Sozinho ou acompanhado. Não é, Diana?

Uma vez mais me questiono acerca do modo que escolho para viajar. Se é para tomar uma decisão destas, que seja um tanto ou quanto ponderada e reflectida. Que justifique os fins, apesar de ser, afinal de contas, um fim em si mesmo. E ao aperceber-me disso sorrio pois encontro a minha resposta. Viajar à boleia é isso mesmo, um fim per se.

Há meses apostei com um polaco, membro do Hospitality Club, que recebi em casa, que conseguiria atravessar a Península Ibérica toda em um dia. “Louco, insano.. Impossível!” exclamou ele entre abertas gargalhadas.

Ontem enviei-lhe um mail dizendo: “Não só chegámos a Barcelona em menos que um dia, como chegámos a Colónia em menos que dois.”

Assim foi, cerca de 2600 km em menos que 48h de boleias. Para ser mais exacto, foram exactamente 41h de boleias, somente intervaladas por 3h30 de sono e uns momentos de descanso antes e depois de dormir, na doce companhia da nossa anfitriã e amiga Cebola e ao sabor de fantásticos croissants catalães.


7.32 nas bilheteiras de Entrecampos para apanharmos o comboio da Fertagus e seguir para a margem-sul até à estação de Foros de Amora. Daí, atravessar por baixo da A2, saltar por cima de uma rede para entrar na estação de serviço do Seixal e começar o nosso caminho por alcatrão português.
OK, apanhámos às 7.52. Já se sabe que manhãs não são o meu forte.
Às 8h e pouco estávamos prontos para começar.
5 carros para percorrer os cerca de 300 km até Badajoz. Uns mais silenciosos, outros mais animados. Outros que tais até com quem se fala da vida e da forma como acabamos por não ser quem desejávamos ser enquanto jovens. Como muito nos passa ao lado e como “com a vossa idade fiz algumas loucuras mas realmente viajar assim nunca viajei”. Ou então não.
Fala-se de segurança. Fala-se de destinos. Fala-se de aventuras. Ou não se fala de todo. Por vezes sabe bem também, já diz a Diana que depressa aprende o sabor do que isto realmente é. “Ao início tive medo mas depressa percebi que tudo estava tranquilo.” Sim, Diana. No pasa nada, diriam os nossos vizinhos. Que bien!

Chegados a Badajoz paramos. Estômagos mais delicados requerem cuidados mais regrados. Se o meu permitiu perder 5 quilos no Verão, desta vez vai ter que fazer um pouco de mãe e cuidar do dela.
Comemos e já passa das 13h. Daqui a poucas horas já caiu o sol e só estamos a um quarto do caminho desejado. Começa a parecer difícil.
Alguma espera mas eventualmente um rapaz oferece-se para nos levar até à próxima estação de serviço. Mas só um pouquinho pois é ilegal levar mais que um passageiro em camiões TIR. A princípio não gosto do aspecto dele. Preconceito estúpido, eu sei, mas na posição vulnerável na qual estamos há que ter “cuidados” redobrados, já diz o sábio e preocupado amigo Pedro Lima. O instinto não me diz que não por isso seguimos com ele. Depressa percebo que o instinto tem muito que aprender e viver. O que seriam uns minutos acabam por ser mais que 500 km que nos leva além de Madrid, nos fala do que é ser camionero, do que é viver sozinho na estrada e estar em casa e com os seus só 36h por semana. Nome curioso e adequado, Angel.
Levanos até uma estação de serviço e quando perguntamos a um casal se nos pode levar até Zaragoza, ele sai disparado para falar em nossa defesa, lutar pela nossa causa porque estes portugueses são locos e querem chegar a Barcelona ainda hoje. Despedimo-nos dele que olhou por nós, quebrou regras por nós, viu um pouco da vida e mostrou um pouco também através dos nossos olhos e ouvidos. Não sem antes tirar um terço que tem pendurado na cabine do seu menino e dizer “Para dar boa sorte e para que viajem em segurança. Agora ou me vão devolver o rosário a Múrcia, ou me escrevem uma carta a contar as vossas fantásticas aventuras e enviam o rosário num pacote.”

Curioso como aquele que a início se mostrou “de desconfiar” se torna no final um dos anjos que realmente nos acompanhou no caminho, nos iluminou e aqueceu, nos permitiu chegar são e salvos ao nosso destino, sendo pessoas diferentes daquelas que éramos quando às 7.32 estávamos atrasados para o comboio para a margem sul.

Preconceitos estúpidos.

O casal convencido leva-nos até antes de Zaragoza mas não parece haver muita gente a passar e menos ainda a nos querer levar. Levam-nos então para uma estação de serviço depois da cidade e a muito custo, depois de dizermos que não se têm que preocupar, partem desejando-nos uma grande viagem.

OK, está complicado. À 1.30 telefonamos à Cebola a dizer que dormimos no hotel da estação de serviço e pagamos €50 por um quarto duplo. Parece que perdemos a batalha. Até que aparece o Miguelito, que trata o seu menino de várias toneladas como um filho. Sim levo-vos até à próxima estação. Não posso levar mais que isso porque se for apanhado posso perder a minha carta de condução e eu vivo disto. Uns minutos depois diz-nos que se não encontrarmos ninguém nos leva até Barcelona. Mais 300 km de caminho na companhia de uma nova pessoa. Mais uma experiência óptima e tranquila. Dormimos à vez na cama enquanto o outro faz companhia ao Miguelito. Chegamos enfim aos arredores de Barcelona, comemos algo para o estômago não se queixar em demasia, arranjamos uma boleia para a cidade e em poucos minutos estamos à porta de casa da Cebola. Quem diria que tão cedo voltaria a esta cidade.

São 7 horas da manhã. Bom dia Cebola. Boa noite Cebola.

A nossa mãe Cebola trata de comprar pão e croissants para os meninos. Desejado banho, pequeno almoço, conversa e vamos que se faz tarde. Saindo às 13h é óbvio que não chegamos a Colónia nesse dia. Mas também não há pressa. Estamos de férias.

Com umas quantas boleias chegamos à França. Um quarentão que tem sempre a prancha de snowboard e as botas expectantes por um pouquinho só de neve nos Pirinéus. Um casal de fumadores industriais que vão a Espanha para comprar tabaco para o mês todo. Um senhor dos seus 60 anos que avisa logo “Olhem que eu ando a 150 ou 160 km/h!” e quase se esquece que nós queremos ficar na estrada no caminho para a Alemanha. Por fim chegamos a uma estação perto de Nimes já por volta das 18h. Telefonamos para um membro do Hospitality Club de Lyon dizendo que estamos a cerca de 250 km de distância e que por volta das 22h estaremos lá para passar a noite. No dia seguinte retomamos a viagem.

Pela primeira vez recusamos uma boleia que nos poderia levar até à próxima estação de serviço, a 35 km, mas que não sabemos se nos deixaria numa posição melhor. Não sabíamos nós o que nos esperaria depois de termos recusado essa boleia. Digo à Diana: “Agora o ideal seria um carro bom que nos levasse até Lyon. São rápidos e seguros. Já chega de TIRs que só viajam a 90 km/h”.

Chega um jipe Toyota novo e com ar de ser uma senhora máquina. No interior, um quarentão com ar duro. Pergunto se vai para Lyon. “Não! Porquê?” “Estou com uma amiga minha e procuramos uma boleia para Lyon.” Não responde, limita-se a fechar a porta. Até então ninguém fora tão rude quanto esta personagem. Volto para perto da Diana e parece que a criatura me chama. “Allez! De que origem são vocês?” que raio de pergunta racista é essa? Somos portugueses. “Allez!” Podemos ir.
Parece um pouco stressado demais para o meu gosto. Pergunto-me se será boa ideia irmos com ele. Questiono atentamente o meu gut-feeling para tentar perceber o que me tenta dizer.
Entramos e dizemos que vamos passar a noite a Lyon a casa de um amigo. “Et toi?” “Vou para a Alemanha.” Ui. Pára tudo! “Para onde exactamente?” “Para Colónia.”
Os meus olhos cruzam os da Diana. Não pode ser. É impossível. De repente ficamos histéricos e ele começa a ficar preocupado. Pode nos levar até Colónia? Também vamos para lá. Sim, se quiserem. Que sorte fantástica! Ligo ao Fernando, anfitrião, colega e amigo agora residente em Colónia. “Não imaginas a sorte que tivemos. Temos boleia até aí deste Nimes! Estamos aí daqui a umas 8 ou 9 horas!”

Essa viagem é indescritível. Desde falarmos de história de Portugal e da ex-União Soviética, sobre o divórcio dos meus pais e do dele com a ex-mulher, a vermos fotos do filho de três anos e ser-nos oferecido o jantar numa bomba de serviço… Temos tempo para falar. Felizmente é uma pessoa interessante e com muita vida nos dedos duros de quem passou já por muito e olha desconfiado para jovens que escolheram viajar assim. No final dizemos adeus e obrigado por tudo. Não demonstra grande emoção mas sabemos que lá dentro algo abanou. 1134 km juntos. Muita conversa partilhada. Gargalhadas, conselhos de vida, opiniões histórico-sociais, conversas sobre amor, relações e aquela que nos é querida mas que está longe.

Somos cumprimentados pela Alemanha com um frio de rachar às 6 da manhã. Um empregado da estação de serviço leva-nos até à sua cidade onde há uma estação de comboio e em 25 minutos estaremos na estação central de Colónia. Boleia um pouco rápida demais. O estômago frágil finalmente protesta rejeitando o leite de soja com aroma de banana. Saudades do Mimosa magro.

Chegamos a Colónia e lá encontramos restos da festa animal que é o Carnaval. Mas não um Carnaval de um dia ou uma noite. Um Carnaval de uma semana inteira. De pura loucura. De quando os alemães se esquecem das regras e da alegada frieza e “soltam a franga”. Chegamos a uma residência onde está o Fernando. São 8 da manhã.

Subimos. A Alemanha cumprimenta-nos mostrando-nos um esquilo que acordou cedo para procurar comida. Sim Diana, chegámos. “Querem dormir?” pergunta o Fernando. “Ah ainda bem.. Eu também.”

Sim, queremos. Até amanhã Fernando. Ou até daqui a um bocado.
Entreolhamo-nos e percebemos: amanhã acordamos e ficamos. Chega de estrada. Está na hora de largar as malas e andar a pé. Bem-vindos à Alemanha, país onde todas as portas de casa de banho se fecham da mesma forma.

Até quando? Até o alcatrão voltar a chamar por nós.


E como facilmente se percebe, este texto demasiado grande não retrata nem um sexto do que realmente se passou nessas 48 horas de estrada a dois olhos, dois pares de pernas e dois sorrisos. Nada substitui a presença de outra pessoa e a partilha do que vivemos.

Saturday, February 17, 2007

a dois...

Hora de novos rumos.
Um novo par de pés acompanha, um novo par de olhos vigia.. Um sorriso com quem partilhar.

Parecia impossível mas é verdade: 1200 km em 23 h! Mas não foram uns 1200 km quaisquer.. NÃO! Foram 1200 km que atravessaram a Península Ibérica de um ponta à outra. Lisboa - Barcelona.

Hora de desayuno, escritas para mais tarde

Next stop, Colónia? Talvez nos fiquemos por Lyon ou Freiburg.


D & M

P.S.- Viva os camiões TIR e os solitários anjos que os guiam. Levamos no bolso um terço para dar sorte no caminho. No final da viagem, carta para Murcia para devolver e enviar notícias.

Friday, February 09, 2007

Porque não controlamos quem nos rodeia.. Aproveitemos!

Olho lá fora e vejo uma Árvore iluminada pelo Sol que se despede por hoje.

Ela aproveita os últimos minutos de encontro que tem com ele hoje, por que sabe que amanhã ele vem tarde. E depois de vir, irá uma vez mais, para mais uma longa noite longe.
Longe dele, longe de com quem quer estar. Do seu calor e dos seus raios loiros.

Hidrogénio e hélio, dizem os cientistas. Mas ela sabe que ele é muito mais que isso. É calor que a alimenta. É luz sem a qual não faria fotossíntese. É o seu Sol, mas ao mesmo tempo de tantos outros.

E sabe que ao final do dia, quando ele se despede, não há nada que possa fazer sem ser pedir que volte no dia seguinte. Independentemente de partir também nesse dia que vem, e no outro e no outro e no outro.

Mas que venha. Nem que venha só por um pouco. Mas que venha.